(Não há nada) pra ler aqui.
surge longe daqui
no fio do horizonte
e atropela de azul
o brilho preto da noite
o dia é uma bala
atinge o já alvejado
peito da calmaria
tinge de gente a rua
espalha corpos na via
o dia é uma bala
sacode a carne inerte
jorra vermelho-vida
abre vermelhos lábios
engrossa fúnebres filas
o dia é uma bala
zune meio ao silêncio
esvazia os abrigos
contrai negras pupilas
sangra bocas e ouvidos
o dia é uma bala
fura porta e janela
rompe órgãos e tripas
escorre sobre calçadas
afoga as avenidas
o dia é uma bala
atravessa a garganta
derruba os ponteiros
embaça olhos e vidros
acerta a vida em cheio
o dia é uma bala
semeando,
seguia sobre
solos, sentido
sudeste, sentindo
sofrer. sem soltar
santo
som, surda,
só
sentia
suas sandálias
sobre
solo seco. somavam-se segundos, seguia
sossegada,
sussurrava seus sonetos, saboreando
sua
sina. seu sabor
salgado saciava.
surgiam sentidos
secretos, solitários.
soltou
sorriso sua solidão.
saía
sem saber se
sentiria saudades.
só
sentia seu são
suor salgando sua
superfície.
saía
sem saber se
surgiria
sob sol
seguinte. seguia
sobressaltada.
sagrada sem ser
santa, sabática
sem ser sábado.
sentinela sem
sabre,
sussurrava
silenciosamente,
salmos, sonetos,
sabotando só
sua solidão, seu
sofrer surdino.
selvagem,
solta, sábia.
sobre sandálias
surradas, sem salto.
sobre sofreres
sanados, seguia
sabiás soltos.
sentia só sua sina, sarava sob suas sardas.
suportou
suas sacolas; suportaria sua solidão.
sem
sair soltando
sua
saia, sem sentar
sorrindo sobre sofás.
sob
seco sol, sobre santo solo,
seguiria
só, sentido sul.
suportava sono;
sacolejava só
suas saudades,
suas solidões,
seus sofreres:
somente
sacos
sujos,
surrados;
somente sujas
sacolas, sendo
suportadas sem
sacrifício, sob
salgado suor.
sem
sentar, sem
sentir, sem saber
se soariam sinos,
soariam salmos;
se seus sonhos
seriam
salvos.
sentido
sudeste.
o rio passa torto
a água moldando
lavando a terra e
o tempo levando
calmo e sereno
o rio não corre
alheio à pressa
o rio se escorre
por entre casas
e automóveis
vejamos o rio
como se move
ele não força
as águas nele
ele as
conduz
calmo
e sereno
engana-se quem
suas
margens vê
como uma prisão
pr’água prender
como
uma corda
não prende o nó
a água e o rio
são coisa só
três coisas têm
um rio perfeito
primeiro o reflexo
do
céu em seu leito
depois as curvas
se
é lago ou estreito
a velocidade d’água
vêm só em terceiro
como navegam bem
folhas num rio lento
como
é calmo o rio
que ignora o vento
segue
sem pensar
a direção ou tempo
reflete
a lua e o sol
poente ou nascendo
a origem de sua água
o rio não pergunta
a água da nascente
junta a da chuva
o reflexo, as curvas
e a água por fim
nada além disso
um
rio é pra mim
o peixe que nada
a
planta na margem
esses não são o rio não
são só paisagem segue
senão
viraria rio nunca
também
o humano sozinho
que entra na água o rio cria
um ledo engano afluentes
o rio é sagrado como as
o homem profano árvores
o rio é verdade criam
o homem engano galhos
o rio vai até o mar para os
pra
onde escorre passarinhos
o homem
não vai montarem
e por isso morre seus ninhos
Fosse o tempo desdenhado
Naquela tarde de chuva
Naquele centro de cidade
Composto de branco e
Dourado dos bancos ao
Som das ondas
Quebrando o ano velho
Em alvas vestes
Como soubessem da paz
Pediam e pendiam
Dos cais das docas
Homens, crianças, dondocas
Prontos todos a brindar
Como os fogos brilhando
Pudessem sobrepor as estrelas
E pudessem tirar a mesa
De um ano já comido
Digerido e excretado
Ali no cais à meia-noite
Como um novo ano
Lavasse mais
Que uma barraca molhada
De água pura e marrom
De terra folhas e calma
Que o desconforto
De estar vivo e satisfeito
Como a barraca que ali estava
Cobrindo-me úmida
Estivesse dentro de mim
E dentro da barraca e de mim
Como andasse por perto
Naquele acampamento
Como pudesse ouvir seus passos n’água
Passeava o tempo
Camping Árvore do Amor, Cananéia-SP, 31 de dezembro de 2012.
Tenho em mim
O medo de engrandecer tanto
As coisas pequenas
Que as grandes sumam
de cena
Guardo uma tampa que acho na rua
Como um tesouro
E jogo fora meu ouro
Na próxima esquina
Porque se precisa ser guardado
Ou aguardado
Pouco importa
Importa que seja nada
Procuro os nadas
de Manoel de Barros.
E inutilmente esbarro
em vazios.
Guardo em mim
Palavras de mendigos
Relevos de calçadas
Postos abertos após as 10
E, com tudo isso,
Adoeço de ser eu
Desconfio sempre de onde estou
Mesmo confinado em casa
Me esvazio ao oco
Em filas de supermercado.
E lamento,
Contudo,
Que não sei lidar
Com nadas.
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