O cartão postal - que maldição - não serve a nada.

O verso da foto não serve à prosa.

Literatura d’um parágrafo; o resumo da vez que não pode ser resumida.

Meio a meio, o endereço e a vida.

Escrever ao singular, sabendo que as palavras serão públicas. Quem respeita a privacidade d’um cartão postal?

Ninguém. Mais fácil seria publicar o amor num jornal.

Escrever na parede a saudade - pra qual não bastaria um livro - muralha da China.

Lido e relido, um epítome de entranhas.

E, no fim, a que restam as distantes palavras derramadas à tinta, senão que marquem a página d’um livro, ou forrem uma gaveta, se muito.

É pouco.

Mas valem, afinal, o calafrio de quem abre a caixa do correio.

De quem encontra em meio às cartas, o amor pelo meio.