Fim de tarde amarelo.
A poluição é um prisma fosco para
o sol.
As nuvens flutuam pesando
toneladas.
Sinto que vou esquecer tudo que
sei. Meu nome, endereço, senhas. Anoto freneticamente todos meus planos
absurdos, agendas para os próximos segundos, ridículas observações sobre nada.
Planejo minhas próximas palavras, para que ao abrir a boca não corra o risco de
sair alguma verdade.
Vendo de dentro, tudo parece
ridículo e gigan(gro)tesco. Engulo seco e
preparo o teatro da minha vida. Tramo minhas mentiras detrás da cortina. Mas
quando saio, não há plateia, somente eu. Então enceno para mim mesmo, e depois
rio e aplaudo (sentado) à beça, tão absurda é a peça.
Penso em algum bom motivo – você
– para não enlouquecer.
Às vezes funciona.
Hoje não.