Tenho em mim
O medo de engrandecer tanto
As coisas pequenas
Que as grandes sumam
de cena

Guardo uma tampa que acho na rua
Como um tesouro
E jogo fora meu ouro
Na próxima esquina

Porque se precisa ser guardado
Ou aguardado
Pouco importa
Importa que seja nada

Procuro os nadas
de Manoel de Barros.
E inutilmente esbarro
em vazios.

Guardo em mim
Palavras de mendigos
Relevos de calçadas
Postos abertos após as 10

E, com tudo isso,
Adoeço de ser eu
Desconfio sempre de onde estou
Mesmo confinado em casa

Me esvazio ao oco
Em filas de supermercado.
E lamento,
Contudo,
Que não sei lidar
Com nadas.