Em 1983
Nasci
E continuei
Cresci
Até um metro
E setenta
Engordei uns
Oitenta
Quilos
Perdi alguns
E cheguei
Aqui

Fiz tudo
Que pude
O que foi
Quase nada
Mas fiz tudo
Que o mundo
Esperava
De mim

Enfim
Não quero
Continuar
E morrer
Sem deixar
Bem claro
O absurdo
Que acho
Tudo

Não me importo
Com nada
Nada
Vejam onde estamos
Nesse planeta
Vagando
No infinito
Por entre outros
No vácuo
De um universo
Que não sabemos
Onde acaba

E essa cidade
Que é
Um trem
Que passa
Cheio de gente
Que passa
Cheia da gente
E não para

Que esperam
De mim?
Que me importe?
Que siga algo,
Acredite?
Mostre os dentes?
Parem com isso
Não esperem
Nada de mim
Nada, enfim

Somente atos
De quem sabe
Que em sessenta
Ou menos anos
Estará morto
E enterrado
Passado

De que vale
Isso tudo?
Esse grande
Absurdo?
Ah, parem
Parem agora
Com essas histórias
De progresso
De regras
De roupas
Status-quo
Costumes
E manuais

Vejam
O mendigo
Que olha
Aquela vitrine
Sabe mais
Do que eu

Ele sabe
Quanto vale
Um minuto
Uma chuva
Uma praça
Eu não sei

Quanto custa
Não é
Quanto vale
Não sei
De nada
Que ele sabe

Então
Contemplo
Com atenção
Talvez aprenda
Algo que não
Seja ilusão
Enfim

Nada dura
E não sabemos
Onde estamos
Nem se somos
Se vivemos
Digo parem
Com isso
Tudo
De uma vez por
Todas

Recomeço aqui
Do zero
Do nada
Não perco tempo
Pois não existe
Não lamento
Só me entorpeço
De vida
E deslumbramento
Pois é o que há
Aqui dentro

No fim
Virá a verdade
Enfim