Foi num desses dias, em que abri o armário - usualmente fechado – procurando alguma coisa, e acabei me perdendo.

Tenho minha própria Nárnia.

Nesse dia em particular, queria uma revista, que sabia que havia guardado lá. Mas acabei batendo o olho num pequeno álbum de fotos, daqueles Kodak, de papelão com divisórias plásticas, que vinham com a revelação.

Peguei.

Abri.

Não eram fotos boas. Olhos vermelhos, fotos tremidas, umas fora de foco, outras poucas com cores já meio opacas. E tiradas em momentos totalmente inoportunos, algumas chegando a ser incompreensíveis. Muito contemporâneas até – pensei um tempo depois -, levando em conta as últimas tendências de câmeras vintage e fotos com aparência antiga ‘de filme’.

Ali retratadas, estavam pessoas que eu sempre achei que não haviam mudado nada com o passar dos anos, mas agora, naquelas chapas, pareciam completos estranhos.

Aquelas fotos haviam sido tiradas há doze anos. As datas estavam lá, impressas nos cantos inferiores direitos, em números quadrados e laranjas. Será que estavam certas? Pensei que talvez pudessem ser um pouco mais antigas. Geralmente um filme de 36 poses eu não gastava tão rápido. Às vezes durava quase um ano.

Quando me dei conta disso, naquele exato segundo, percebi que aquilo que eu segurava nas mãos valia ouro. Aquele ‘albinho de foto’ (sic) retratava - em 36 fotografias ou menos - talvez um ano inteiro da minha vida.

Parei de virar as páginas.

Imaginei quantos armários ainda teria na vida, e se o eu-futuro iria guardar e ver novamente aquelas fotos algum dia. Pensei ainda se as pessoas sorrindo nas fotos ainda estariam por perto. E se estariam ainda sorrindo.

Decidi que sim, e guardei de volta o álbum.

Na mesma prateleira do armário, num saquinho, estavam os negativos. Um rolinho - agora aberto – que continha os registros químicos dos momentos da minha vida que achei que mereciam ser registrados através do reflexo da luz.

Quanto tempo será que duram?

Voltei à minha busca pela revista.

Pouco tempo depois, já folheando a revista, pensei - o que as centenas de fotos que tenho no meu computador têm de digitais, afinal? - se comparadas às fotos que eu havia acabado de segurar entre os dedos.